segunda-feira, 30 de agosto de 2010

100 anos de solidão (para fãs)

Este texto é cheio de spoilers, se você não leu "Cem anos de Solidão" mas pretende, não leia, mas se não liga para isso....

 Recentemente emprestei 100 anos de Solidão para uma de muitas tias que possuo, agora todas as vezes que nos encontramos temos como tema obrigatório, dentro de todos os que abordamos, os aspectos que temos deste livro sensacional de Gabriel García Márquez, um senhor de 83 anos que sou perdidamente apaixonada. Minha admiração por ele somente pode ser comparada à admiração que muitas mulheres têm por Chico Buarque.

                                                         Amo muito esse Senhorzinho


O modo como Gabriel aborda os vários tipos de paixões dentro deste livro é de uma forma sem igual, não encontrei nada com que pudesse comparar, infelizmente a maioria das pessoas teimam por "Memórias de Minhas Putas Tristes", um romance água com açúcar o qual você passa a sua tarde inteira para lê-lo por completo, um tanto quanto piegas, Gabriel volta na primeira fase do romantismo em que o eu-lírico tem seu amor como uma deusa e que não merece sofrer a mácula de um maldito mortal pecador (claro que tudo possui dois lados, provavelmente o personagem principal também tenha se dolorido, no fundo de sua alma, em deflorar uma menor de idade, enfim depois faço um post sobre este livro), enquanto que em 100 anos há a abordagem de amores, paixões cotidianas, muitas vezes ampliados por uma lente de aumento, mas isso não o transforma numa leitura exagerada, somente cômica, como o relacionamento entre Petra Cotes e Aureliano Segundo, que todas as noites de sexo os animais também se reproduziam e as árvores davam mais frutos.



(O mais interessante foi o modo despretensioso que peguei para ler este livro pela primeira vez, e lá estávamos eu  ele na sala de casa, eu no sofá e ele em meio à leve camada de poeira da estante, depois que o abri não quis mais soltá-lo.)


Dentre as várias paixões e amores dentro do livro, existem as paixões políticas, como a passagem sobre o Cel. Aureliano Buendía ou a revolução dos trabalhadores também liderada por um Aureliano, trabalhando além das paixões existem suas conseqüências, as loucuras que muitos homens fizeram por Remédios, A Bela ou o caso de amor proibido entre Renata Remédios e Maurício Babilonia, assim também como os ciúmes e invejas de Amaranta Buendía, os arroubos de Rebeca, Rebeca, que aliás é um personagem controverso, depois de noivar com um professor de boas maneiras, joga tudo para o alto para se casar com Aureliano Buendía.

Gabriel várias e várias vezes repete os personagens dentro da trama, porém a cada hora que um Aureliano ou um José Arcadio ou uma Remédios aparecem eles não se mostram os mesmos dos anteriores, mas é como se cada nome carregasse um fardo, um destino ou a personalidade marcante de cada personagem, é como a Grande Mãe dos Buendía descreve: todos os José Arcadio são impulsivos, extrovertidos e trabalhadores enquanto que os Aurelianos são pacatos, estudiosos e muito fechados no seu próprio mundo interior. O mesmo ocorre com as Remédios, toda Remédios é munida de um beleza ou uma aura exuberante, a primeira Remédios, além de bela, é marcada com uma pureza infantil, apesar de demonstrar certa maturidade em seu noivado, já a segunda Remédios de tão bela e pura ascende, não havia nada que ela fizesse que estragasse sua beleza (como raspar a cabeça) ou a maculasse, a terceira Remédios (Meme) sempre possuía borboletas em sua volta durante seu relacionamento com Mauricio Babilonia.

O autor também marca bastante as partes angustiantes do livro, descobri que paixão e angústia andam sempre juntos, mas essa parte sempre é mostrada de uma forma implícita, quando Meme é mandada grávida ao convento e nunca mais se tem notícias dela. Ou as dores veladas que Amaranta carrega para seu túmulo.

Mas se tem uma parte do livro que ainda não consegui entender foi a posição de García Márquez sobre o incesto, Úrsula sempre se mostrou uma personagem com grande receio de que seus filhos nascessem com rabo de porco, visto que José Arcádio é seu primo distante, coisa que não acontece com nenhum de seus filhos, entretanto ao final do livro o último dos Buendía é fruto de uma relação incestuosa entre Amaranta Úrsula e, seu sobrinho, Aureliano Babilônia, este último Buendía nasce com rabo de porco, mas por um outro lado a própria Amaranta Buendía se relaciona com seu sobrinho Aureliano José. Talvez Gabriel abomine em partes as leis do incesto, até que ponto ele acredita ser concebível?

Enfim, tentarei (ao meu modo) descrever abaixo os meus personagens favoritos do livro:

José Arcadio Buendía - Não sei por que cargas d'água teimo em comparar alguns personagens do livro com amigos, parentes e familiares. José Arcadio é um deles, vivo comprando meu pai com ele, claro que meu pai é um ser em menor grau, mas a essência é a mesma.
José Arcadio é o começo de tudo no livro, é o pai de Josér Arcadio Buendía, Cel. Aueliano Buendía e Úrsula Buendía, além de ser o fundador da cidade de Macondo, cidade em que se passa 99% da trama.
É descrito como um homem muito forte, apesar de magro, porém o que me chamou a atenção, assim como a de muitos leitores, foi a sua curiosidade combinada com a extravagância. Além de ser um homem muito impulsivo, não parava para pensar duas vezes quando uma ideia surgia em sua cabeça, sem ligar para os contras sempre botava seus projetos em prática e não se deixava abater quando estes falhavam.Fez grande par com o cigano Melquíades.

Úrsula Iguarán - Mulher de José Arcádio Buendía, não posso deixar de compará-la com minha mãe, claro!
Úrsula é a mulher que segura as pontas em todo o momento, minha tia a chama de mulher de fibra, depois de alguns pontos explicados entendi porque, Úrsula é o personagem "são" que tenta a todos os custos manter sua casa firme em meio à todas as explosões de seu marido José Arcadio, além de todos os Buendía posteriores. Eu a via como uma mulher conservadora e pouco crente à todas as novidades científicas vindas com os ciganos acreditando que todas as demonstrações dos primeiros ciganos eram puramente mágica simplesmente não perdia noites de sono como José Arcadio, preocupava-se muito mais com os problemas cotidianos em sua casa, também pouco aventureira, não era dada às empreitadas de seu marido o que a enlouquecia toda vez que este o fazia. No entanto não desqualifica sua inteligência e força de vontade, como quando começa a vender docinhos de caramelo para sustentar a casa, Úrsula é descrita como "voz da razão de uma familia de loucos", vive em torno dos 120-130 anos.

José Arcádio Buendía (Filho) - É o filho mais velho de Úrsula e José Arcadio, é a primeira reviravolta que possui dentro do livro, minha primeira grande surpresa, primeiramente ele é mostrado como uma sobra de José Arcado, O Pai, sempre o acompanhando dentro de seu laboratório improvisado do lado de fora de casa. No entanto ao se apaixonar por Pilar Ternera (uma cartomante) este se desvincula totalmente do futuro que esperava, daí Gabriel mostra os laços de confidências entre ele e seu irmão mais novo, Aureliano Buendía, contanto para este suas aventuras sexuais com Pilar. O acho um tanto quanto covarde quando este foge com os ciganos, depois de entrar em desespero ao descobrir que Pilar estava grávida. Daí há algum tempo retorna como o grande homem fodão, aventureiro e comedor, dí p/ frente ele passa em branco (pena , esperava mais desse personagem) sempre relacionado com sua mulher Rebeca (filha de criação dos Buendía)

Cel. Aureliano Buendía - Grande parte do livro é dedicado a ele, outro que apresenta várias matizes, primeiramente como o irmão mais novo de José Arcadio Buendía, é mostrado como o confidente, mais velho, depois do desaparecimento de seu irmão e a loucura de seu pai é o homem da casa, apesar de se mostrar relapso às questões domésticas é um homem engajado quando toma partido dos liberais na guerra civil de seu país (daí a patente de Coronel), mas também se mostra como a versão masculina de Amaranta Buendía, segundo Gabriel somente se apaixonou por uma mulher, na realidade uma menininha de 12 anos, Remedios Moscote, não ama mais ninguém após sua morte, apesar de ter 17 filhos, todos frutos da guerra civil. (Foi também mais comedor Buendía) Depois da guerra se torna um homem solitário, que morre fazendo peixinhos de ouro.

Amaranta Buendía - Está aí o meu personagem favorito, muitas vezes me comparo com ela, tudo bem que a comparação é um tanto quanto exagerada, mas eu a entendo perfeitamente apesar de todos os seus podres.
Não tem como não xingar esta personagem de mal-amada, invejosa, recalcada, orgulhosa e todos os outros predicados pejorativos que pudermos encontrar, mas apesar de tudo Amaranta é um personagem muito passional, apesar de ser uma passionalidade invertida, ela não externa suas raivas, angústias e frustrações, guarda tudo para si. Ela é sim uma pessoa romântica, porém amargurada, tem seu primeiro amor (Pietro Crespi) "roubado" por sua irmã Rebeca, daí para frente Amaranta tenta de todos as formar sabotar o noivado do casal, quando este se apaixona por ela, não dá a mínima atenção, consgo entender perfeitamente seu orgulho. Apesar disso Amaranta foi amada porém nunca mais conseguiu amar alguém.

Pilar Ternera - Tá aí um personagem que tem minha admiração, a cartomante é descrita como uma mulher de grandes gargalhadas e bastante decidida, vira a concubina dos Irmãos Buendía, tem um filho com cada um deles: Arcadio (filho de José Arcadio) e Aureliano José (filho do Cel. Aureliano), apesar de todos os filhos bastardos é graças à ela que a família Buendía perpetua.

Melquíades - Sem sombra de dúvidas é meu personagem favorito, se José Arcádio Buendia é o começo de tudo ele é o começo de José Arcádio, é por conta deste cigano que José Arcadio começa seus "surtos". Apesar de aparentar um papel pequeno durante todo o livro, Melquíades é de grande importância no desenrolar da trama e mesmo morto sempre está presente.

                      ( Árvore genealógica dos Buendía, não tem um leitor que não a tenha esquematizado)


Acredito que 100 Anos de Solidão seja um livro "sazonal" , a cada vez que alguém o lê, mesmo depois de anos, sempre encontra algo de novo que anteriormente seus olhos não captaram, esse é o principal motivo por tamanha admiração por este livro, seria 100 anos a descrição de América Latina?, Seriam os Buendá a representação dos latinos? e à cada nova leitura surgem novas perguntas...

Um comentário:

  1. UUUaaaauuuuu adoreeeeiiii ^_^
    vou te seguir meu bem.
    Faça uma visita ao meu blog!!!
    Essa eu perdi de lavada >.<

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